
Os solos, muito mais que produção de alimentos, são responsáveis pelas funções ecossistêmicas do planeta como: os ciclos dos gases (carbono, enxofre, nitrogênio) e até o ciclo da água. As funções ecossistêmicas do solo também passam pelo equilíbrio da biota (relacionados com conceitos de on-farm e agricultura regenerativa) e o uso estratégico de fontes de nutrientes (potássio e o fósforo). Tão importante quanto o tipo e origem das fontes de potássio e fósforo, sejam da Rússia ou outros locais, é a utilização correta dos nossos estoques e futuras compras dessas matérias-prima. Pesquisas mostram que o entendimento dos indicadores ecossistêmicos para regiões temperadas e tropicais tem que ser revistos, apresentando erros para regiões tropicais acima de 20% (vinte por cento) para parâmetros relacionados à mudança no uso da terra e o ciclo biogeoquímico de elementos como fósforo e nitrogênio, por exemplo. Diagnosticar os solos tropicais com mais detalhe, assertividade e tecnologias “tropicalizadas”, está diretamente relacionado com o avanço e a prosperidade da sociedade de forma sustentável. Atualmente, existem no Brasil diversos laboratórios cadastrados com selos do INMETRO e Proficiência do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), porém, existem laboratórios que apresentam um erro de até 30% no diagnóstico básico de nutrientes do solo como fósforo. Assim, independente da dose ou fonte, como realizar uma compra, fazer o planejamento do estoque ou à aplicação no campo, sem informações representativas dos solos tropicais? A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo tem proposto novas metodologias e abordagens para diagnóstico do potencial agrícola e ambiental dos solos tropicais. Este artigo publicado no blog da YouAgro busca tratar sobre estes tópicos, e uma visão mais ampla do solo, um dos maiores ativos de qualquer produtor, empresa do segmento agro, e onde tudo começa!
1. Parte: Muito além do carbono e fertilizantes, o que são as dimensões ecossistêmicas do solo?
Para algumas fronteiras de uso do solo no mundo, o risco e a resiliência das áreas agrícolas, entre as Regiões Tropical e Temperada variam mais de 50%. Para o correto funcionamento do sistema terrestre precisamos regionalizar ainda mais esses limites, especialmente nas Regiões Tropicais.
Muito além dos fertilizantes como potássio e fósforo tão comentados devido a crise geopolítica global provocada pelo conflito Rússia e Ucrânia, para que a agricultura tropical avance e as boas práticas sejam ainda mais efetivas e à longo prazo, devemos considerar que os solos, por si só, sem influência da atividade humana, já apresentam características próprias, herdadas da sua formação e expressas pela tipologia das argilas. Os tipos de argila são nanopartículas naturais da terra que impactam diretamente na estratégia de compra e utilização das fontes de fósforo, potássio, bioinsumos, organominerais e remineralizadores.
A Sociedade Sociedade Brasileira de Ciência do Solo publicou um boletim especial para tratar sobre as Funções do ECOssistêmicas do solo, indo muito além dos fertilizantes:
Quais as funções do solo e suas fragilidades para o equilíbrio do ecossistema?
Qual a importância do solo para sustentabilidade e provisão de serviços ecossistêmicos?
Qual a contribuição dos serviços ecossistêmicos dos solos para adaptação e mitigação às mudanças climáticas?
Como os solos tropicais podem ajudar na intensificação sustentável e oportunidades para a agricultura brasileira?
Como entender os solos ajuda nos serviços ecossistêmicos sobre gestão e uso da água no meio rural?Como tecnologias tropicalizadas e a educação em solos tem ajudado a valorar os serviços ecossistêmicos?
Faça Dowloand gratuito do Boletim da SBCS sobre as funções Ecossitêmicas do solo

2. Parte: Por que devemos tropicalizar os valores de referência para uso agrícola dos solos brasileiros?
A discussão do ESG, pegada de carbono, carbono neutro, agricultura regenerativa, resiliência hídrica, produção de proteínas, e até mesmo inovação em métodos de diagnóstico dos solos para uso agrícola e urbano, só irão avançar de forma efetiva quando revermos nossos valores orientadores à fundo.
Os valores de referência para qualidade dos solos tem uma forte relação com a tipologia das argilas. Entender a tipologia das argilas ajuda a reduzir erros dos procedimentos metodológicos, melhora a extrapolação e comparação de dados, além de subsidiar com respaldo técnico-científico produtores, empresas e órgãos ambientais para diferentes aplicações seja posicionamento de potássio, fósforo e fontes alternativas de insumos.
A projeção acumulada da demanda de fertilizantes NPK no Brasil até 2028 é da ordem de 146 mil toneladas, segundo a plataforma elaborada pelo Departamento de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) < acesse as projeções em outlookdeagro.fiesp.com.br >. Esse é um mercado de bilhões de reais e diretamente impactado pelo diagnóstico adequado dos solos brasileiros e suas particularidades à nível de fazenda.
A influência da fração mineral do solo (nanopartículas naturais da terra), especificamente os minerais chamados de óxidos de ferro e hidróxidos de alumínio, já foi abordada nos clássicos brasileiros e primeiros estudos no país realizados por Curi, Santana e Resende na década de 1980.

Fonte: Próprio autor – Verificar base de artigos técnico-científicos em < http://lattes.cnpq.br/8836609544198735 >
3. Parte: Diagnóstico do solo e os intervalos de confiança: INMETRO, ISOs e Proficiência
Existem no Brasil mais de 130 laboratórios para diagnóstico do solo. Alguns são acreditados pelo INMETRO e a ISO 17025, atestando que o laboratório executa suas atividades com precisão, qualidade e confiabilidade.
Segundo o relatório 2019 do ensaio de proficiência IAC para fins agrícolas, cerca de 20% dos laboratórios avaliados foram classificados com índice de excelência abaixo de 79%.
Para diagnósticos básicos de nutrientes do solo como fósforo, cerca de 30% das amostras avaliadas por alguns dos laboratórios, estavam fora do intervalo de confiança (resultado que ajuda a entender o índice de erro).
Para o diagnóstico da matéria orgânica (MO) e do teor de argila, dois parâmetros utilizados em modelos matemáticos para estimar o estoque de carbono no solo e o balanço de carbono comentado no ESG e na pegada de carbono, o erro foi da ordem de 20 a 30% em alguns casos.

Somente após entendermos os solos tropicais de forma mais ampla, seremos capazes de elevar a agricultura brasileira para um novo patamar. A questão das fontes de insumos é um fator estratégico para o país, igualmente importante ao entendimento do solo. Afinal, como planejar as doses e tipos de fontes de insumos, sem diagnosticar o potencial dos solos tropicais de forma precisa e com representatividade de campo. Vamos:
Falar sobre valores de referência regionais ?
Falar sobre intervalos de confiança regionalizados ?
Falar sobre a tropicalização de metodologias?Falar sobre inclusão tecnológica e a difusão da ciência para solos tropicais?
4. Parte: Novas metodologias para diagnóstico e análise dos solos brasileiros: melhor recomendação de Fósforo (P), Potássio (K) e diagnóstico do Carbono (C) no solo
Cerca de 90% do que produzimos (alimentos, fibras e energia) vem do solo. Para produzir proteína (vegetal ou animal), fibras para roupa, medicamentos e itens diversos, além da energia para veículos e algumas aeronaves, precisamos de fertilizantes. Qual a fonte de fertilizante mais eficiente? Pesquisas em solos tropicais mostram que a eficiência do fertilizante tem relação com nanopartículas naturais do solo.
Nos solos brasileiros existem nanopartículas naturais (1 mm dividido por mais de 1000 vezes) que impactam diretamente em mais de 80% no manejo mais eficiente, rentável e sustentável dos fertilizantes. Os cientistas e pesquisadores de ciência do solo têm chamado essas nanopartículas de tipologia da argila (mineralogia aplicada).
Separamos alguns links com fontes de trabalhos técnico-científicos para agricultura tropical em áreas agrícolas brasileiras demonstrando a importância de se entender, diagnosticar, mapear e propor recomendações considerando a tipologia das argilas (nanopartículas da terra), incluindo posicionamento de potássio e fósforo.
4.1. Adubos NPK: Como a tipologia da argila impacta nos adubos nitrogenados? Dependendo da tipologia da argila ocorre maior perda de NOx. Entenda a relação da perda de N com Óxido de Titânio no (solo-rocha) < Fonte 1: https://bit.ly/35SKSNd ; Fonte 2: https://bit.ly/3CQomo9 >
4.2. Remineralizadores (rochas): Como a tipologia da argila impacta no posicionamento de fontes de potássio (K)? Ao utilizar fontes de remineralizadores saiba qual a melhor rocha e dose adequada para diferentes tipos de argila já existentes no solo < Fonte 1: https://bit.ly/3lj89iB; Fonte 2 Aplicações no MERCOSUL: https://lnkd.in/duXPUaVi >
4.3. Bioinsumos (microorganismos e compostos): On farm e a resposta das bactérias e fungos benéficos ao solo considerando a tipologia das argilas < Fonte 1 Caso Grupo Cabo Verde: https://bit.ly/2ODdyVw ; Fonte 2 Metagenômica, enzimas, biota e o solo: https://bit.ly/3JmPwp7 >
4.4. A evolução da ciência do solo: inovações para gestão da terra, do mapa de solos à agricultura regenerativa < Fonte 1 Canal Rural e agricultura regenerativa: https://bit.ly/3vYvsW7 ; Fonte 2 Rede Nanotecnologia: https://bit.ly/3J5HoZD >
4.5. Calagem: a inovação que permitiu plantar de forma sustentável no bioma Cerrado. Qual a relação da tipologia da argila com a calagem e o melhor aproveitamento de fertilizantes? < Fonte 1: https://bit.ly/34EWRkE >
4.6. Pesquisas e inovações no manejo do solo. Como anda a ciência brasileira, quais os temas mais pesquisados e quais os novos assuntos (temas estratégicos)? < Fonte 1: https://bit.ly/3I2cwYN >

De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), para cada R$1 investido no conhecimento sobre o solo, o potencial de retorno é de R$ 180. Segundo Atlas da Agropecuária Paulista para cada R$ 1 investido na formação de pessoas em Ciências Agrárias retorno é superior a R$ 12. Esse é o caminho para o processo de melhoria contínua da agricultura tropical ainda mais sustentável: entender o solo brasileiro, onde TUDO começa!
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Sobre o autor
Diego Siqueira – Engenheiro Agrônomo turma de 2003 e pós-doutorado pela UNESP Jaboticabal com foco em metodologias para agricultura tropical sustentável e nanopartículas naturais do solo, atuou em diferentes ecossistemas de ciência aplicada e inovação no Brasil como Supera Parque, Rede Inovação da Unesp, Anprotec e Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. Foi co-fundador de uma incubadora de base tecnológica e Hubs de inovação com foco no agro e indicado como TOP 30 América Latina no Ranking internacional de pesquisa, tecnologia e inovação em ciência do solo e agricultura digital em 2022. Atualmente é mentor em Hubs de inovação, professor na Pós-graduação em Ciência do Solo da Unesp na parte de sensores de solos e Diretor Executivo na Quanticum, uma empresa de tecnologia com DNA Unesp. Em 2021 a empresa foi TOP6 em inovação no agro, TOP3 em softwares e serviços ecossistêmicos e referência na COP26 em manejo sustentável do solo. Saiba mais em bit.ly/diegosiqueira
Revisão: Guilherme Ferraudo – Estatístico (MSc.) com PhD em Agronomia (Genética e Melhoramento de Plantas). Especialista em Agro Data Science pela UFSCar e UNESP. Mentor em diversos programas de inovação aberta no agronegócio, co-fundador do YouAgro primeira EdTech focada na comunicação aberta para agricultura tropical na América Latina. Atualmente atua na curadoria técnica de ecossistemas de inovação e no desenvolvimento de negócios e produtos digitais da MyCarbon, subsidiária da Minerva Foods. A Minerva Foods é a maior exportadora de carne bovina da América do Sul.