
As inovações tecnológicas são essenciais para o agricultor gerenciar o mundo VUCA e conter ou diminuir o impacto dos desafios na produção de alimentos. VUCA é uma sigla em inglês para Volatility, Uncertainty, Complexity, and Ambiguity (Volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade). As tecnologias têm sido críticas para continuarmos aumentando a produção de alimentos a níveis maiores do que precisamos, dando, assim, segurança para a humanidade continuar crescendo.
Apesar de as inovações tecnológicas terem sido essenciais desde o início da agricultura, os maiores impactos têm ocorrido nos últimos 150 anos. Desde então, iniciou-se com a invenção do motor de combustão, que foi o coração da revolução industrial na agricultura. Depois, veio a revolução verde, com as inovações no melhoramento de plantas, fertilizantes e defensivos químicos. A Engenharia Genética veio em seguida e transformou a produção de plantas. Por fim, chegaram a agricultura de precisão e todas as ferramentas da revolução da tecnologia de informação e comunicação (TIC), para transformar o mundo não só dos produtores, mas dos consumidores também.
As tecnologias para o mundo VUCA
Como vimos, a agricultura vive um mundo VUCA e juntamente com o capital, o emprego de tecnologias consiste na adoção das ferramentas que o produtor rural possui para lutar contra, ou, melhor dizendo, gerenciar este mundo VUCA. Desta forma, desde o início, o desafio na produção de alimentos dividiu-se em proteção da planta ou animal contra sua destruição total ou parcial e aumento da eficiência na produção de alimentos pela mesma planta ou animal.
Assim, através da história, agricultores e cientistas focaram em duas áreas (dentro e fora das plantas) para protegerem e melhorarem a produção de alimentos. As inovações tecnológicas compreendem áreas focadas em plantas, mas cujos princípios são também utilizados para garantir a proteção e melhoria de produção dos animais no caso da pecuária.
Inovações para a planta e o ambiente
A primeira área, dentro da planta, é a que envolve a planta em si, ou seja, como melhorar e adaptar a planta de milho, tomate, trigo etc. para produzir mais, em mais lugares e em épocas diferentes. A forma de se fazer isso deu origem ou impulsionou a expansão de várias áreas das Ciências Biológicas como Botânica, Fisiologia de plantas (água e nutrição), Fenologia, Genética, melhoramento vegetal, Biotecnologia, Biologia molecular (RNAi) até os avanços mais recentes em edição de genes (CRISPR) e a inovação com produtos alternativos e substitutos.

A segunda área, fora da planta, é focada em proteger e melhorar a produção de alimentos e envolve o ambiente em que a planta está crescendo e produzindo. Ou seja, ações necessárias que impactam diretamente ou indiretamente a planta, mas também as decisões em geral do agricultor sobre os sistemas de produção e econômico de sua propriedade. Para isso, agricultores e cientistas têm desenvolvido ações em busca de ferramentas, equipamentos, máquinas, estrutura e fertilidade do solo, sistemas de irrigação, defensivos químicos e biológicos, rotação de cultura, conservação de solos, sistemas de manejo integrado de pragas, plantas daninhas e doenças, agricultura orgânica, sistemas de produção ILPF (integração lavoura, pecuária e florestas) e todo o complexo de soluções oferecidas pela tecnologia de informação e comunicação, como computadores e telefones celulares, a agricultura de precisão, internet das coisas, automação e inteligência artificial, ciência dos dados e as redes sociais e aplicativos.
A inovação tecnológica dentro e fora da planta tem sido necessária para solucionar os desafios crescentes que os produtores têm enfrentado. Estes desafios podem ter existido por séculos até que uma inovação na ciência tenha gerado as condições para o desenvolvimento de novas tecnologias e, assim, ajudar o produtor rural na produção de alimentos ou viabilizá-la, em alguns casos. Além disso, também tivemos inovações para solucionar desafios criados por tecnologias ou modelos de produção anterior. Importante lembrar que a inovação é constante e, às vezes, imperfeita.
Assim, na jornada do desenvolvimento tecnológico na agricultura, ajustes de rotas têm ocorrido e, mesmo assim, a agricultura tem conseguido produzir mais alimentos do que o necessário para toda a humanidade na quase totalidade dos últimos 100 anos. Desta forma, essas revoluções precisam ser analisadas de forma crítica, pensando nas oportunidades de melhoria, mas também com gratidão por terem permitido alimentar a humanidade até agora.
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Sobre o autor
Tederson é Engenheiro Agrônomo, PhD e MBA. Tem mais de 20 anos de experiência em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de tecnologias aplicadas à agricultura. Também trabalhou nas áreas de estratégia e gerenciamento de produtos em multinacionais nos EUA, Brasil e Argentina. Além disso, atua como investidor-anjo de startups brasileiras. Atualmente, é diretor de P&D de uma startup que desenvolve tecnologias mais sustentáveis para o manejo de pragas na agricultura. Recentemente publicou o livro “Prato Meio Cheio, Meio Vazio: conquistas, desafios e alternativas para alimentar a humanidade sem destruir o planeta”.