
Quando dizemos que a humanidade desenvolveu a agricultura há 10 mil anos, na realidade estamos falando que homens e mulheres estavam domesticando animais e plantas. Ou seja, estavam aprendendo como animais e plantas se multiplicavam e de que maneira homens e mulheres podiam controlar esse processo. No caso das plantas, eles deveriam colher, conservar e semear as sementes das plantas maduras ou que estavam “morrendo”. Com isso, a humanidade aprendeu a produzir alimentos em um mesmo lugar, sem precisar percorrer grandes distâncias para caçar, pescar ou coletar alimentos. E dessa forma surgiram a agricultura e o agricultor.
O conhecimento que viabilizou a domesticação das plantas e animais foi o entendimento da Biologia e da Fisiologia. Cada vez que se semeavam sementes para produzir mais alimentos, o agricultor aprendia mais e evoluía no seu próprio desenvolvimento. A primeira semente colocada na terra com a intensão de produzir alimentos foi o resultado da observação humana em face da natureza. Assim, a humanidade começava a acumular conhecimento técnico sobre a produção de alimentos.
A revolução da genética
No entanto, somente a domesticação das plantas passou a não ser o suficiente para garantir a alimentação da humanidade. Isso porque, à medida que a agricultura expandia, as cidades cresciam e menos pessoas eram responsáveis pela produção de alimentos. Assim, havia uma demanda crescente direcionada aos agricultores, que tinham que buscar novas formas de aumentar a produção.
Desta forma, é que se iniciou o desenvolvimento da área de melhoramento de plantas, mesmo séculos antes dos estudos de Gregor Mendel, na década de 1860, e das primeiras leis da genética que relacionaram características visuais das plantas com a genética. Isso fez com que agricultores e cientistas conseguissem prever e planejar os cruzamentos de plantas, raças ou variedades para melhorar a produção agrícola.

Como mencionado acima, mesmo antes do desenvolvimento das leis da genética, cientistas já aplicavam técnicas de melhoramento de plantas para aumentar a produtividade ou outras características de interesse comercial, como tolerância a doença, estatura de plantas ou tempo de maturação. Descobertas que precederam as leis da genética incluem a identificação de órgãos sexuais das plantas até a produção dos primeiros híbridos que, normalmente, possuem um potencial produtivo maior do que o das linhagens puras. No início do século XIX, um dos lançamentos mais famosos na agricultura, como resultado da experimentação inicial dos cientistas, foi uma variedade de trigo resistente a uma doença severa da época, a ferrugem.
Por fim, a publicação da Teoria da Evolução por Charles Darwin, em 1859, mostrando o impacto da seleção natural na evolução das espécies, causou um grande impacto na Biologia do século XIX. Esta teoria acelerou consideravelmente os avanços no melhoramento de plantas e deixou o terreno fértil para Mendel fazer a ligação entre as características fenotípicas, genéticas e evolução com a publicação das leis da genética. Dessa forma, cientistas em todo o mundo tinham as ferramentas necessárias para impulsionar o desenvolvimento de novas variedades, híbridos e raças de plantas e animais para contribuir com o aumento da produção de alimentos do mundo.
Estes avanços culminaram com a demonstração, em 1928, de que o material genético estava segmentado em genes e estes eram compostos de DNA. Depois disso, Watson e Crick (1953) desenvolvem a estrutura de dupla hélice do DNA e abrem o caminho para o detalhamento do código genético. Assim, a evolução da Ciência de melhoramento de plantas oferece não somente resultados imediatos, com o aumento do potencial produtivo de plantas e animais, mas também abre o caminho para uma nova Ciência que está surgindo e irá revolucionar ainda mais a produção de alimentos: a Engenharia Genética.
Fontes de informações para este artigo
Chahal, G.S., Gosal, S.S. 2002. Principles and procedures of plant breeding: biotechnological and conventional approaches. Alpha Science International Ltd, India.
Watson, J.D., Crick, F.H.C. 1953. Molecular structure of deoxypentose nucleic acids. Nature.
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Sobre o autor
Tederson é Engenheiro Agrônomo, PhD e MBA. Tem mais de 20 anos de experiência em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de tecnologias aplicadas à agricultura. Também trabalhou nas áreas de estratégia e gerenciamento de produtos em multinacionais nos EUA, Brasil e Argentina. Além disso, atua como investidor-anjo de startups brasileiras. Atualmente, é diretor de P&D de uma startup que desenvolve tecnologias mais sustentáveis para o manejo de pragas na agricultura. Recentemente publicou o livro “Prato Meio Cheio, Meio Vazio: conquistas, desafios e alternativas para alimentar a humanidade sem destruir o planeta”.